Nossa época exige que pensemos sobre os direitos da
natureza. A humanidade tem desenvolvido cada vez mais a sua capacidade de
destruição. O avanço tecnológico, que também pode contribuir para a melhoria da
qualidade de vida, está ampliando assustadoramente a nossa potencialidade para
promover a morte. Trata-se de uma questão levantada por pensadores que estudam
a evolução bélica da humanidade, mas também se refere às questões mais sutis
como o estilo de vida e o modelo de desenvolvimento econômico que afetam
diretamente a biodiversidade presente no planeta.
Na década de 1960, alguns estudos já alertaram a humanidade
para os perigos da sua intervenção no ambiente natural, como a pesquisadora Rachel
Carson, que escreveu o livro Primavera Silenciosa em 1962. Naquela época, esta
bióloga se deparou com evidências de que os pesticidas e agrotóxicos estavam
poluindo as águas e os solos, colocando em curso um processo de eliminação de
várias espécies animais e vegetais. Em 1979, o filósofo Hans Jonas também
chamou a atenção para os impactos negativos das nossas ações sobre o meio
ambiente, propondo uma ética da responsabilidade através do seu livro O
Principio Responsabilidade.
Trabalhar pela proteção e o desenvolvimento do ser humano
ainda representa um grande desafio para a humanidade, pois não é difícil
encontrar situações criadas pelo homem que atentam contra a dignidade do
próprio homem, como as desigualdades sociais, as violências, o abandono, as guerras,
as ditaduras, os racismos e outras intervenções prejudiciais e desumanizadoras.
Hoje, no entanto, o avanço tecnológico impôs outros desafios que ameaçam não
somente o ser humano, mas a vida no planeta. As mudanças climáticas causadas
pela ação irresponsável do ser humano, sobretudo, aquela parte que possui maior
poder de consumo e intervenção na natureza, exigem que ampliemos a nossa visão
de mundo.
Diante das alterações desencadeadas pela exploração
excessiva e irracional dos recursos naturais é necessário nos empenhar pelo
reconhecimento dos direitos da natureza. Importa lembrar que destes direitos
dependem também a própria vida humana, uma vez o desequilíbrio dos ecossistemas
naturais coloca em risco a vida do próprio homem, chegando a afetar de forma
desproporcional as populações mais pobres. Reconhecer juridicamente que a
natureza tem o direito de realizar, no seu tempo, os seus processos vitais e
ciclos ecológicos promoverá um maior envolvimento do Estado nas medidas de
proteção da natureza.
Os mananciais hídricos situados nos territórios amazônicos
estão sofrendo graves ameaças por parte do crescimento desordenado das cidades,
pela falta de políticas ambientais nas indústrias e pela omissão das empresas
de saneamento, que não cumprem as metas de expansão dos serviços de esgotamento
sanitário. O saneamento de Manaus, a maior metrópole da Amazônia, apresenta-se
entre os piores do Brasil. A concessão privada não responde as demandas da
cidade, oferecendo serviços precários para amplas parcelas da população e
ignorando o cumprimento das metas contratuais do esgotamento sanitário.
A emergência das mudanças climáticas que afetam a humanidade
ainda não despertou os setores estratégicos da sociedade para o compromisso
ambiental. O mercado insiste em ver a natureza como uma reserva de capital disponível
para a exploração a partir de uma visão reducionista e produtivista. A natureza
como suporte da vida continua sendo ameaçada em largura e profundidade. A visão
dos povos tradicionais que convivem harmonicamente com a natureza não serve aos
interesses mercantilistas do capitalismo verde. Os modelos alternativos de
sociedade justa e sustentável são minados e não conseguem prosperar pela falta
de espaço e oportunidade.
As mudanças climáticas podem oferecer também oportunidades
de repensar o nosso estilo de vida e ampliar os horizontes para além da
cartilha capitalista, que se alimenta da busca desenfreada pelo lucro e da acumulação
de riquezas nas mãos de pequenos grupos elitizados. As tragédias ambientais
promovidas pelo paradigma individualista e corporativista podem nos ensinar a
valorizar os bens comuns e o protagonismo coletivo na gestão socioambiental.
A sabedoria dos povos tradicionais nos ensina que estamos
inseridos numa teia de vida sustentada pela natureza e defender os direitos da
natureza passa a ser atitude fundamental para a sobrevivência da humanidade. As
ciências também têm reconhecido cada vez mais a importância de estabelecermos
relações de proteção e respeito para com a natureza. No contexto de emergências
climáticas não há espaço para o negacionismo, nem para as dúvidas paralisantes.
Defender a natureza contra as agressões modernas implica reconhecer os seus
direitos e efetivá-los.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/os-direitos-da-natureza/
IHU Unisinos - https://ihu.unisinos.br/categorias/660094-os-direitos-da-natureza
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