O Segundo Seminário do Fórum das
Águas, realizado no dia 25 de junho, mostrou um cenário desalentador na
Amazônia, expondo os desafios socioambientais da região. O evento foi realizado
no Centro de Formação da Arquidiocese de Manaus (CEFAM), sendo impulsionado
pela exposição das pesquisadoras: Adorea Albuquerque, professora do
PPGEOG/UFAM, com pesquisa em recursos hídricos e saneamento ambiental; Clarice
Tukano, professora de Saberes Indígenas da FACED/UFAM, membro da diretoria da
AMARN; Gilmara Santos, doutoranda em Informática da ICom/UFAM, com pesquisa
sobre monitoramento remoto da qualidade da água.
Esta segunda edição do seminário
teve como tema “cidades amazônicas e mudanças climáticas. O que os amazônidas
podem fazer?”. Com esta abordagem, o coletivo busca provocar um debate sobre a
região amazônica, levando as populações se mobilizarem para oferecer respostas
sustentáveis aos perigosos impactos causados pelas crises climáticas, que
resultam das intervenções inadequadas do ser humano sobre o meio ambiente. Com
este debate, a organização também busca tirar os poderes públicos na inércia,
levando-os a se empenharam na defesa da natureza frente às políticas
antiambientais adotadas na Amazônia.
Diversos coletivos e lideranças participaram do evento, tendo a oportunidade de expressar as suas preocupações com o processo de devastação da região amazônica e com a omissão dos poderes públicos frente a este problema. Eles destacaram de forma especial as políticas públicas antiambientais aprovadas pelos poderes executivos e parlamentares da região. Ainda constataram que o poder econômico se sobrepõe aos valores da vida, da sustentabilidade e das culturas locais. Mesmo diante dos estragos já causados pelas práticas predatórias incentivadas pela economia capitalista, não se percebe iniciativas relevantes do Estado que visam à proteção e o cuidado da Amazônia.
O PL 2159/2021 é uma iniciativa
preocupante forjada por setores que representam o agronegócio, os criadores de
gado e os madeireiros. Infelizmente, o Projeto da Devastação tem recebido amplo
apoio de parlamentares, mostrando a falta de compromisso com a proteção da
natureza e o quando tais políticos têm defendido interesses de poderosos grupos
em detrimento do bem comum. A aprovação deste Projeto beneficiará grandes
capitalistas, afetando negativamente as florestas brasileiras e amplas áreas
que precisam de proteção.
Ironicamente, os parlamentares apoiadores do Projeto de Lei 2159/21, na sua grande maioria, pertence aos estados amazônicos, como o Amazonas: Adail Filho (Republicanos), Átila Lins (PSD), Capitão Alberto Neto (PL), Fausto Júnior (União), Sidney Leite (PSD) e Silas Câmara (Republicanos). Isso indica que os nossos representantes políticos não se interessam pela proteção da Amazônia, mas defendem interesses corporativos que trabalham para a sua devastação. Não se preocupam com a qualidade de vida dos povos originários, mas se empenham em favorecer pautas que agravam as crises climáticas e o colapso ambiental.
O Projeto altera profundamente o processo de licenciamento
ambiental no Brasil, permitindo a dispensa de licenças para diversas atividades
predatórias. Uma das alterações mais prejudiciais é a ampliação do uso da
Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que permite a liberação de
empreendimentos de médio impacto por autodeclaração, sem análise técnica prévia.
O PL também desvincula o licenciamento de processos como a outorga de uso da
água e a regulação fundiária, comprometendo a gestão ambiental integrada.
Estas ações predatórias afetam drasticamente
as águas, gerando poluição e criando cenários temerários que prejudicam a vida
das populações, a existência e a qualidade dos recursos hídricos. A professora
Adorea Albuquerque demonstrou preocupação com o surgimento de ilhas de plástico
nas cidades amazônicas, resultado da falta de política pública de reciclagem na
região. Tais montanhas de resíduos transformam a paisagem das localidades,
demonstrando a omissão dos poderes públicos e a inexistência de planejamento
urbano e socioambiental.
A professora também frisou a falta
de saneamento básico em Manaus, destacando a ausência dos serviços de
esgotamento sanitário e a má qualidade dos serviços de abastecimento de água.
Chama a atenção o fato de que tais serviços sejam realizados pela iniciativa
privada, que tanto enaltece a eficiência do mercado e a qualidade dos serviços
oferecidos. Na realidade, a Concessionária Águas de Manaus tem realizado um serviço
precário e deficitário, sem cumprir as metas estabelecidas no contrato de
concessão, assinado em julho de 2000. A irresponsabilidade da empresa, a
anuência da Prefeitura de Manaus e a falta de fiscalização dos serviços colocam
a capital amazonense entre as piores cidades no ranking das 100 maiores
metrópoles do Brasil.
A professora Clarice Tukano, liderança indígena e docente da UFAM, também externou grande preocupação em relação às condições de vida dos povos indígenas. Juntamente com o bioma da região, estas populações têm sido agredidas, exploradas e dizimadas por empreendimentos diversos que buscam drenar as riquezas do território, semeando a destruição e a morte. Fortemente vinculados ao território, os povos indígenas sofrem na pele as iniciativas da devastação da terra e das águas. Para estas culturas, estes elementos são sagrados e devem ser respeitados como os seus próprios corpos.
A doutoranda Gilmara Santos também
fez um alerta sobre a necessidade do Estado investir em tecnologias sociais de
cuidado e preservação das águas. A pesquisadora está desenvolvendo junto à
Universidade Federal do Amazonas uma tecnologia de monitoramento remoto das
águas dos rios amazônicos. Mostrar os impactos da poluição nas águas é imprescindível
para a criação de iniciativas voltadas para a preservação dos corpos hídricos.
A cidade de Manaus, com a sua extensa rede de igarapés totalmente poluída,
indica que os poderes públicos locais se omitem diante do desafio da proteção
das águas.
O 2º Seminário do Fórum das Águas
promoveu a formação de rodas de conversas que abordaram de maneira específica
temas relevantes para a Amazônia: Águas, Povos Indígenas e Bem Viver, Florestas
e Resíduos Sólidos. As lideranças presentes fizeram propostas concretas para
serem apresentadas aos poderes públicos, tendo em vista também a COP 30, que
acontecerá em Belém do Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.
O Seminário entra na história do Fórum das Águas como um momento de sensibilização e reforço das redes de proteção da natureza situadas no território amazônico. Trata-se de uma iniciativa que visa incentivar o cuidado da casa comum e provocar uma reflexão na sociedade, tendo em vista a omissão e o comodismo dos poderes públicos frente aos desafios socioambientais gerados pelos poderes econômicos que dominam a região.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/seminario-do-forum-das-aguas-mostra-desafios-socioambientais/
Jesuítas do Brasil - https://paamsj.org.br/ii-seminario-forum-das-aguas-debate-os-impactos-da-crise-climatica-nas-cidades-amazonicas/
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