Por Antônio José do Nascimento
Fernandes Delegado eleito nas etapas municipal (Manaus) e estadual,
representante do setor de iniciativa primária.
Introdução: Um Processo Coletivo e Preparatório
Desde o segundo semestre de 2024,
a construção da participação do Amazonas na 5ª Conferência Nacional de Meio
Ambiente (CNMA) foi marcada por um amplo processo de articulação, liderado pelo
Instituto Amazônia Livre em parceria com a Associação dos Ambientalistas do
Amazonas (AMA). Junto a aliados como o Superintendente do IBAMA no Amazonas,
Joel Araújo, o Instituto Sumaúma (Augusto Leite e Fátima Barbosa), o Fórum das
Águas (Pe. Sandoval) e o Núcleo Socioambiental (Rosi Batista), realizamos
conferências municipais, estaduais e livres para consolidar propostas que
refletissem as urgências da Amazônia.
Na Conferência Municipal de
Manaus (dezembro/2024), fui eleito delegado pelo setor de iniciativa primária,
representando agricultores familiares e povos tradicionais que defendem a
agroecologia como modelo de desenvolvimento sustentável. Posteriormente, na 5ª
Conferência Estadual (março/2025), fui reeleito, integrando uma delegação
plural de 65 representantes, incluindo indígenas, pesquisadores, gestores
públicos e ativistas. Nesse processo, priorizei a discussão sobre mitigação das
mudanças climáticas, destacando a agroecologia como estratégia para combater o
desmatamento, garantir segurança alimentar e promover justiça socioambiental.
Essas pautas foram fundamentais para nossa atuação em Brasília.
Atuação em Brasília: Estratégia e Conquistas
Na etapa nacional (6 a 9 de maio
de 2025, no Centro Internacional de Convenções do Brasil - CICB), nossa
delegação atuou em eixos temáticos estratégicos. Fui designado para o Eixo 3:
Justiça Climática, onde participei ativamente do GT 22 (Contrapartidas e
Compensação Socioambiental).
Nesse espaço, defendi a Proposta
3.4.12, que prevê taxar grandes fortunas para financiar políticas climáticas,
direcionando recursos a comunidades vulneráveis. Essa proposta alia justiça
social e ambiental, tema essencial para o Amazonas, onde populações
tradicionais sofrem diretamente com os impactos das mudanças climáticas.
Destaques das Propostas Aprovadas
com Influência Amazonense:
● Proposta 5.13.2 (Eixo V): A
mais votada da conferência (352 votos), exigindo 5% do orçamento público para
ações ambientais, incluindo fiscalização e educação climática.
● Proposta 2.3.1.P (Eixo II):
Criação de brigadas florestais comunitárias (3ª mais votada, com 220 votos),
estratégia vital para o Amazonas, onde incêndios e desmatamento exigem
respostas locais.
● Proposta 3.4.8 (Eixo III):
Fundos climáticos para reparação de comunidades vulneráveis (6ª mais votada,
com 130 votos), alinhada à luta por direitos territoriais.
Esses resultados mostram como a
delegação amazonense influenciou a agenda nacional, garantindo que temas como
financiamento ambiental, participação comunitária e justiça climática fossem
priorizados.
Diálogos e Reconhecimento
A CNMA foi também um espaço de
reencontros e alianças. Tive a honra de reencontrar minha professora Rita
Mesquita (INPA, atual Secretária de Biodiversidade do MMA), o líder indígena
Daniel Munduruku e Pedro Ivo (GTA), além de fortalecer parcerias com delegados
como Airton Neto (Amapá) e Maurício Freitas (Sergipe).
O discurso das ministras Marina
Silva (Meio Ambiente) e Margareth Menezes (Cultura) destacou a intersecção
entre cultura e sustentabilidade, reforçando que a defesa da floresta passa
pelo reconhecimento dos saberes tradicionais. Marina Silva afirmou: "Não
há futuro sem a Amazônia viva", ecoando nossas demandas por políticas
concretas.
Conclusão: Um Marco para a Política Ambiental
A 5ª CNMA foi um marco na
democratização das políticas ambientais. O Amazonas, representado por uma
delegação plural e articulada, colocou a Amazônia no centro do debate, com
propostas que combinam exigibilidade financeira, inclusão social e inovação
institucional.
Como delegado, saio com a certeza
de que a pressão da sociedade civil é irreversível. As propostas aprovadas —
especialmente a destinação de 5% do orçamento para o meio ambiente — são
vitórias coletivas, mas exigiremos monitoramento e mobilização para a sua
implementação.
O Instituto Amazônia Livre e a
AMA seguirão firmes nessa jornada, pois, como dizemos no movimento: "A
luta ambiental pela floresta viva constitui um projeto de país".
Antônio José do Nascimento Fernandes
Delegado da 5ª CNMA pelo Amazonas
Manaus, maio de 2025
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