Neste Dia Mundial da Água todo o planeta se volta para as
questões relacionadas à água, sem a qual a vida não seria possível. É uma data
em que nós refletimos sobre a nossa relação com este bem essencial para todos
os seres vivos. A Amazônia que possui o maior reservatório hídrico do planeta
não pode ficar de fora desta reflexão sob o risco de cair no erro da omissão.
Podemos oferecer significativa contribuição neste debate, pois somos quase
seres anfíbios e sabemos os perigos e as oportunidades ofertadas pelas águas.
Diante deste maravilhoso fenômeno do encontro das águas do
Rio Negro com o Rio Solimões nos sentimos em sintonia com o planeta e com
todos os seres que nele habitam. Contemplando o abraço sinuoso destas águas formando o
Rio Amazonas, percebemos que é possível caminhar juntos no respeito e
valorização das diferenças. É possível construímos sociedades democráticas,
justas e sustentáveis. A contemplação da natureza nos mostra que é possível
viver unidos, apresentando o melhor que temos e que sempre pode ser
aperfeiçoado.
Esta relação simbiótica nos impõe a obrigação de levantar a voz em prol do cuidado das águas e do planeta. Sentimos que não podemos calar diante de tantas
agressões e maus-tratos contra a natureza. Notamos que as práticas pautadas nas
lógicas utilitaristas não nos fazem bem. Não podemos reduzir a importância da
natureza à sua capacidade de produzir lucros para beneficiar a poucos. Este
sistema está nos matando! Toneladas de agrotóxicos são lançadas nas águas todos
os dias pelo agronegócio, visando expandir as taxas de rentabilidade dos
grandes empresários e multinacionais. O garimpo descarrega irresponsavelmente materiais poluentes
nas águas amazônicas, prejudicando todos os seres vivos do entorno.
A mineração é uma atividade essencialmente predatória, que
passa matando o solo, as águas, as pessoas e a natureza em geral. Ninguém
sobrevive a esta atividade mortífera, que fere a terra e as águas, deixando
destruição e beneficiando uns poucos. As grandes cidades não são mais construídas para o encontro e a convivência, mas para expandir o mercado e
reforçar a exclusão e a desigualdade. Manaus é uma cidade desigual e
desorganizada, que possui uma gestão sem nenhuma sensibilidade ambiental. Não
há políticas públicas que cuidem dos nossos rios e igarapés. As indústrias
lançam seus resíduos nos corpos hídricos causando a morte das águas, das
espécies e o adoecimento das populações.
O saneamento básico de Manaus é uma tragédia! Sob o controle
de uma empresa privada, o esgotamento sanitário é ausente na maior parte da
cidade, causando doenças e assassinado as nossas águas. Sem uma fiscalização adequada,
a empresa faz o que deseja na cidade, oferecendo serviços precários e enganando
o povo. Nas oficinas que o Fórum das Águas tem realizado nos bairros é notável
a irresponsabilidade da empresa Águas de Manaus e a sua frieza com o sofrimento
que provoca naquelas populações. A baixa
qualidade dos serviços de água e esgoto de Manaus é destaque nacional,
descortinando os verdadeiros objetivos do mercado da água, que é produzir
lucros à custa do trabalhador e da devastação ambiental.
As cobranças exorbitantes associadas aos serviços precários
investigados em diferentes ocasiões pela Câmara Município de Manaus fazem da privatização uma prática a não ser seguida. Temos as tarifas mais
caras da região amazônica, o que promove o colapso econômico das famílias e
perpetua a desigualdade social na cidade. Manaus, que tem o potencial de ser
modelo de justiça hídrica para o Brasil, trata os direitos humanos à água e ao
saneamento como privilégio de poucos nas zonas mais nobres da cidade, deixando
a maioria da população revoltada.
Desabamentos e alagações se transformaram no símbolo do
inverna manauara. É resultado da falta de saneamento básico, que mata pessoas e
traz à tona a má qualidade dos nossos gestores públicos. Crianças desaparecem
nos bueiros, famílias inteiras são soterradas, igarapés são transformados em
esgotos a céu aberto, rios são poluídos, ruas esburacadas, e direitos
fundamentais desrespeitados. Nossa cidade está abandonada! Este é o triste cenário
que nós encontramos hoje em Manaus.
Queremos que a Conferência sobre Mudanças Climáticas em
Belém considere toda essa situação, encaminhando soluções democráticas e
plausíveis para a Amazônia e para o mundo. Queremos ser ouvidos pelos tomadores
de decisão, uma vez que somos os primeiros a sofrerem as consequências das suas
deliberações. Sem a participação popular, a COP30 será mais uma encenação
tediosa que não responderá aos desafios atuais, mas poderá até agravar este
cenário desafiador que nos envolve. Não queremos soluções provisórias e
enganosas. Estamos cheios de promessas não cumpridas!
É necessário irmos à raiz dos problemas e a solução será encontrada quando tivermos a coragem de questionar o atual modelo civilizatório que coloca todas as suas esperanças no mercado, na tecnologia e na frieza da ciência descomprometida com a vida. Encontraremos saídas na medida em que respeitarmos o princípio da vida, que estimula a colaboração, a complementariedade e a solidariedade. É preciso ações rápidas e eficientes e quanto mais democráticas forem estas decisões mais teremos chances de reverter esses processos destrutivos.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/2a-romaria-do-forum-das-aguas-pede-maior-cuidado-com-o-planeta/
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/649941-2-romaria-do-forum-das-aguas-pede-maior-cuidado-com-o-planeta-artigo-de-sandoval-alves-rocha
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