A iniciativa busca enfrentar a
grave crise hídrica que tem impactado comunidades ribeirinhas, indígenas e a
população das periferias de Manaus. A campanha foi criada por meio da união do
Movimento dos atingidos por Barragens (MAB) e da Caritas Arquidiocesana de
Manaus, somando esforços de várias instituições como o Fórum das Águas do
Amazonas. Além destas instituições, a campanha contou com o apoio dos coletivos
Levante Popular da Juventude, Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho, Observatório
Socioambiental Encontro das Águas, Coletivo de Mulheres da Educação, Alternativo
de Petrópolis, Favelafro, Cria Visu e os Jesuítas do Brasil.
As mudanças climáticas intensificaram a vulnerabilidade de milhares de famílias na Amazônia, agravando a escassez de recursos essenciais, entre os quais o fornecimento de água potável. A devastação do meio ambiente causada pelo modelo econômico capitalista tem dificultado aos pobres o acesso desses serviços fundamentais. Os desastres ambientais gerados pela exploração irracional do meio ambiente têm colocado em risco as condições de manutenção da vida humana no planeta. A busca desequilibrada do lucro não deixa espaço para a realização de uma reflexão aprofundada nem a criação de organizações sociais ambientalmente sustentáveis.
O abastecimento de água e o
esgotamento sanitário são direitos fundamentais reconhecidos pela Organização
das Nações Unidas em julho de 2010, mas na Amazônia e em outras regiões do
Brasil ainda constituem serviços inacessíveis para significativa parcela da
população, sendo os setores mais prejudicados as populações das periferias
urbanas, indígenas, ribeirinhos e os quilombolas. A cultura da desigualdade
inerente à sociedade contemporânea impede a realização de ações efetivas de
transformação social que venham a beneficiar ao conjunto coletividade.
A submissão desses serviços à
lógica do mercado tem sido criticada por diversas comunidades, movimentos
sociais, ambientalistas e acadêmicos, uma vez que as tarifas elevadas impostas
pelas empresas de saneamento dificultam o acesso das populações mais
vulneráveis. O Fórum das Águas do Amazonas tem registrado essas dificuldades na
cidade de Manaus, onde os serviços de água e esgoto estão privatizados desde o
ano 2000. Ações do coletivo nas periferias confirmam essa situação, mostrando
através de relatos dos moradores a fragilidade dos direitos humanos ao serem subordinados
aos interesses econômicos.
A despeito da riqueza produzida em Manaus, a população sofre com a falta de serviços básicos, pois a economia não prioriza as necessidades das comunidades, mas o retorno econômico. Esta lógica também é replicada na gestão privada dos serviços de saneamento básico. A concessionária Águas de Manaus amplia a cada ano o seu rendimento econômico, mas oferece serviços precários aos manauaras. Esta política impõe uma baixa qualidade de vida à população que sofre a falta de água e a ausência de esgotamento sanitário. A empresa, com o consentimento dos poderes públicos (Prefeitura, Câmara Municipal) prejudica a saúde pública e contribui com a crise ambiental, deteriorando os rios e igarapés da cidade.
O colapso ambiental evidenciado
pelas atuais catástrofes socioambientais mostra que a racionalidade econômica
que caracteriza o mundo contemporâneo está levando a humanidade ao precipício,
deixando a sociedade sem tempo de resposta. Projetos antiambientais de
exploração como agronegócio, mineração, grandes rodovias, hidrelétricas,
pecuária extensiva, produzem consequências negativas que prejudicam o
ecossistema e dificultam a continuidade dos ciclos vitais.
A campanha “Água é Vida, Doa Vida” inspira atitudes e posturas cada vez mais difíceis de serem encontradas, pois ela é impulsionada por valores como solidariedade, colaboração, diálogo, justiça socioambiental, ecologia integral, bem comum e direitos humanos. As organizações envolvidas nesta iniciativa sinalizam que apesar das dificuldades impostas pela cultura do consumo e do descarte é possível criar sociedades sustentáveis, iniciando processos de transformação que beneficiam a todos e todas.
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