No dia 19 de outubro, o Fórum das Águas do Amazonas promoveu
a 6ª Edição da Tribuna das Águas, denunciando a falta generalizada de cuidado
com os corpos hídricos e a ausência de políticas públicas de preservação das
florestas amazônicas. A Tribuna das Águas aconteceu no Parque Municipal Pontes
dos Bilhares, zona centro-sul de Manaus, em parceria com as organizações que
participaram do Fórum Social Pan-amazônico (FOSPA), nas cidades bolivianas de
Rurrenabaque e San buenaventura, entre os dias 12 e 15 de junho do corrente
ano.
Representantes de diversas organizações e movimentos sociais fizeram uso da palavra, trazendo à tona problemas socioambientais vividos na cidade de Manaus e na Amazônia. Foram eles: a Comissão Pastoral da Terra, o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental, a Rede Eclesial Pan-amazônica, o Movimento Salve o Parque dos Bilhares, a Central de Movimentos Populares, o Instituto Sumaúma, a Articulação de Mulheres do Amazonas, o Conselho Regional de Serviço Social, o Movimento Comunitário do Bairro da Chapada e o vereador recém-eleito José Ricardo (PT).
A falta de
planejamento dos poderes públicos (municipal, estadual e federal) frente a seca
que atualmente assola a região amazônica contribuiu para acentuar a indignação
da Tribuna da Águas. Além das denúncias contra os crimes de desmatamento e
queimadas na Amazônia, os palestrantes fizeram fortes críticas ao agronegócio,
à mineração, à grilagem de terras e à falta de água potável e esgotamento
sanitário na região. O descuido dos igarapés e rios da cidade e a ausência de
manutenção dos parques florestais ganharam destaque.
O Movimento Salve o Parque dos Bilhares se manifestou contra a construção da sede da Semmas-Manaus, que realizará a derrubada de 132 árvores no Parque Municipal Ponte dos Bilhares, prejudicando o meio ambiente do entorno. As denúncias contra a construção já foram feitas em outras ocasiões, mobilizando diversos meios de comunicações e organizações da cidade. Segundo a Agência Cenarium, a construção já chegou a ser embargada pela Justiça, mas logo depois houve autorização para a continuidade da obra, que abrange um prédio de dois andares e um grande estacionamento.
Tendo em vista a falta
de árvores e áreas verdes na cidade, os moradores e ambientalistas não se
conformam com a agressão ambiental realizada pelo executivo municipal no Parque
dos Bilhares. Um dos representantes do Coletivo salienta que se trata de uma
grande contradição ver a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e
Sustentabilidade agir contra uma das poucas áreas verdes da cidade, havendo
centenas de prédios desocupados que poderiam ser reformados para sediar o
órgão, sem precisar de derrubar nenhuma árvore. De fato, pesquisas do IBGE
mostram que Manaus é uma das capitais menos arborizadas do Brasil, indicando a
frágil consciência ambiental nas estruturas de poder.
O Instituto Sumaúma também endossou a percepção de que a consciência ambiental não chegou aos órgãos do poder estadual, ao denunciar o abandono do Parque Sumaúma, na zona leste da cidade. A Organização compareceu na Tribuna das Águas, cobrando a reabertura do mencionado parque para que seja possível as visitas da população que vive no seu entorno. O Coletivo também denuncia a falta de cuidado com as nascentes presentes na localidade, situação encontrada também no Parque Ponte dos Bilhares, por onde passa dois importantes igarapés da cidade: Mindu e Cachoeira Grande.
O pesquisador da
Universidade Federal do Amazonas, Lucas Ferrante, também fez uma participação
no evento, lendo a Carta do Fórum das
Águas do Amazonas à sociedade e tomadores de decisão. O documento é
resultado da Conferência sobre a seca na
Amazônia, ocorrida no dia 9 de agosto, no Centro de Formação da
Arquidiocese de Manaus. A Carta, que foi assinada por muitos coletivos,
denuncia a omissão dos poderes públicos frente às consequências das mudanças
climáticas na Amazônia. Os Grandes Projetos de intervenção, como a Rodovia BR 319 são descritos como grandes
perigos para a região podendo impulsionar o desmatamento, as queimadas, a
grilagem ilegal, os conflitos fundiários, a redução dos reservatórios hídricas
e o desaparecimento das florestas tropicais.
As falas expressaram muita preocupação pelo avanço das mudanças climáticas que já vitimam muitas pessoas e ecossistemas no mundo inteiro, sendo as populações mais vulneráveis aquelas que mais sofrem. A Amazônia já sente esses efeitos através das secas severas e da elevação das temperaturas. Infelizmente os poderes públicos constituídos não demonstram interesse em enfrentar essa situação, pois estão sequestrados pelos lobbies dos grande negócios e empreendimentos que visam a lucratividade à qualquer custo, ignorando o desastroso cenário socioambiental em curso.
O Pós-Fospa, realizado no auditório da Faculdade Católica do
Amazonas, aglutinou lideranças dos diversos movimentos, rememorando as
principais discussões e encaminhamentos do FOSPA, realizado na Bolívia.
Palestras e trabalhos em grupos foram realizadas com o objetivo de estabelecer prioridades ne ações a serem desenvolvidas
nos próximos anos.
Uma das palestrantes
foi a Professora Dra. Tânia Ricaldi Arévola, da Universidade Mayor de San
Simón, na Bolívia, que falou em vídeo sobre os desafios do extrativismo e as
alternativas para um desenvolvimento sustentável: “Precisamos abandonar esse
extrativismo perverso e construir alternativas energéticas que mudem as lógicas
de desenvolvimento que impactam os sistemas de vida das comunidades e dos
povos, além das afetações ambientais”, afirmou a docente.
Entre as prioridades escolhidas pelos participantes, destacam-se: lutar pela remunicipalização dos serviços de água e esgoto em Manaus, incentivar o reflorestamento com o apoio das universidades e órgãos afins, trabalhar pela preservação dos rios e igarapés, estimular a participação social em conferências do meio ambiente.
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