No dia 5 de setembro a Arquidiocese de Manaus realizará o
30º Grito dos excluídos e excluídas, reunindo os cristãos e as cristãs, assim
como as pessoas que lutam para fazer da sociedade um espaço de convivência
fraterna entre homens, mulheres e todos os seres vivos do planeta. O lema deste
ano é “Vida em primeiro lugar! Todas as formas de vida importam, mas quem se
importa?”. Em Manaus, o evento terá início na Praça da Saudade – Centro, às 15h
e seguirá em caminhada até a Praça da Matriz.
Ao realizar o evento, os participantes têm em mente as
situações de agressão aos seres humanos e não humanos ocorridas atualmente no
Brasil e na Amazônia. O Grito busca sensibilizar a sociedade e os poderes
públicos no que tange às violações dos direitos fundamentais que causam sofrimentos
e devastação ambiental. O Brasil não tem uma boa história para contar sobre a
sua relação com os direitos humanos. Ao contrário, a nossa história é marcada
por graves e inúmeras violações à dignidade da pessoa, principalmente em tempos
obscuros de ditadura militar.
O Brasil também não construiu boas relações com a natureza,
mesmo mostrando na sua bandeira e cantando no seu hino o orgulho de possuir
muito verde e abrigar incomum biodiversidade. Historicamente, a natureza foi
tomada como inimiga, assim como todos aqueles que com ela se identificavam e a
defendiam. Esforços gigantescos foram realizados para domá-la e destruí-la com
a intenção de modificar o território para viabilizar a instalação de uma
sociedade moderna, europeizada e sofisticada.
Dando seguimento a esta lamentável trajetória, o Brasil
contemporâneo continua gerando conjunturas de violências, onde grande parte dos
brasileiros vive em situação de desamparo enquanto uma minoria deles ostenta o luxo
e a riqueza muitas vezes conquistada de forma ilegal e imoral. É comum
encontrarmos neste grande território multidões amargando a falta de serviços
básicos, como saúde, moradia, educação, saneamento, emprego e transporte. Diversas
articulações ainda são realizadas visando devastar o nosso meio ambiente e
contribuído com as crises climáticas que já nos afetam enormemente.
O Grito dos excluídos e excluídas eclode um grande PAREM e
um enorme BASTA! Há 500 anos, a vida neste território é banalizada. Os povos
amazônicos e a Amazônia são pouco a pouco dizimados. A ganância prevalece e se
materializa em projetos muito concretos e destrutivos, impactando fatalmente as
populações, os solos, as águas e as florestas. A vida é pisoteada pela
mineração, pelo agronegócio, pela pecuária, pelas hidrelétricas e pelo mercado
que coloca tudo a venda. O mercado controla a totalidade da existência, não
deixando de fora nem a água potável nem a saúde básica.
A iniciativa do Grito dos excluídos e excluídas clama por
outra civilidade. Uma civilidade em que há coisas sagradas que não podem ser
precificadas. Uma civilidade em que o mercado tem limites bem definidos e não
pode avançar sobre os bens essenciais da vida. Nesta civilidade, o ser humano e
todos os seres vivos têm direito de viver e a interdependência entre eles é
respeitada e valorizada. O princípio do cuidado será mais importante do que a
lei da prevalência dos mais fortes.
Precisamos urgente de uma sociedade em que a solidariedade supere a competitividade desenfreada. Esta atitude poderá criar relações para além do lucro e um consenso que salvará a humanidade da insensatez da depredação e do consumismo. Uma atitude de responsabilidade para com todo tipo de vida e para com as condições necessárias para a sua manutenção. Nesta nova civilidade, até as gerações futuras têm direitos assegurados porque estão entrelaçadas numa teia de vida de grande alcance, abrangendo até os seres mais fracos. Nesta teia biogênica não há excluídos e excluídas. Todos têm o seu lugar de realização.
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