Nos dias 3, 4 e 5 de junho, o Fórum das Águas do Amazonas e a
organização Habitat para a Humanidade realizaram um conjunto de atividades que
trouxeram à tona a realidade dos serviços de abastecimento de água e
esgotamento sanitário na cidade de Manaus. As atividades incluíam visitas a
diversos bairros da cidade e audiência pública na ALEAM, com convocação dos
poderes públicos fiscalizadores dos sistemas de água e esgoto. A empreitada
terminou no dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, com a realização de oficinas
e palestras sobre a gestão dos recursos hídricos na capital amazonense.
O evento mobilizou vários movimentos sociais locais, além de representantes de comunidades e organizações dos bairros. Os atores presentes durante as atividades expressaram sua indignação pela situação precária vivida nas comunidades, não somente no que diz respeito ao saneamento, mas também outros serviços básicos como moradia, educação, saúde, trabalho e transporte. Os comunitários foram unânimes em destacar a ausência dos poderes públicos municipais, estaduais e federais, indicando que vivem em uma situação de abandono.
As visitas aos bairros e a escuta dos próprios moradores possibilitaram
as instituições organizadoras romperem a “bolha de notícias” criada pelos
principais meios de comunicações, permitindo o contato direto com a realidade
dos comunitários e localidades pobres. A caminhada pelos bairros e as conversas
coletivas mostraram que a realidade é bem diferente das propagandas produzidas
pelas empresas e muito distinta dos discursos articulados por políticos profissionais
interessados em votos.
As situações concretas presenciadas nas comunidades não deixam dúvidas sobre a gravidade da questão socioambiental que afeta Manaus e o abandono vivido diariamente pelos moradores das periferias da cidade. A falta de água potável em várias comunidades, a má qualidade do abastecimento e a poluição hídrica indicam que estamos distantes de uma situação eticamente aceitável, ambientalmente sustentável e socialmente justa. O sofrimento do povo e o descaso com a natureza tornaram-se situações normais perante a maioria dos políticos de plantão e dos poderes públicos estabelecidos.
A exploração operada pela empresa de saneamento Águas de
Manaus produz um enriquecimento exponencial agradando os seus acionistas que
vivem a milhares de quilômetros deste território, sem o menor interesse pela
qualidade de vida da população. A falta de esgotamento sanitário indica que a
política pública implantada na cidade não visa o bem da população, mas ao
interesse da empresa que lucra excessivamente sem realizar os serviços para os
quais é contratada.
O controle do abastecimento hídrico pela concessionária privada transforma os direitos à água e ao saneamento em privilégios daqueles que podem pagar as tarifas elevadas determinadas pela ganância do mercado. Sob esta lógica não existe solidariedade nem humanidade para quem não pode arcar com as faturas mensais. Para estas famílias existe somente a exclusão do sistema, representada pelo corte da ligação no pé da calcada, quando há calçada. As cobranças abusivas infligidas às famílias pobres representam saldos consolidados nos rendimentos da empresa. Ela que procura sem cessar estratégias de extorsão para continuar elevando o seu valor no mercado financeiro.
A ausência dos poderes públicos na audiência pública realizada
na Assembleia Legislativa do Amazonas é um acontecimento simbólico. Ele
representa a ausência dos poderes públicos nos territórios manauenses e
amazônicos. Não querem ouvir o povo, nem as suas reclamações. Escondem-se atrás
dos seus gabinetes aquartelados, longe da população, de seus gritos e das suas
necessidades. O povo é obrigado a inventar suas próprias soluções. É abandonado
nos momentos em que mais precisa. É traído por aqueles que prometeram tudo.
A privatização não é a solução! A solução só pode vir do próprio povo que se une para melhorar a sua situação. Este desejo de melhorar é que produz soluções alternativas, frente às receitas impostas de cima para baixo. Esta vontade de vencer é que produz experiências de autogestão em que a comunidade toma as rédeas nas mãos, administrando coletivamente os seus próprios recursos, sem se render às armadilhas da empresa capitalista.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/manaus-uma-cidade
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/640142-manaus-uma-cidade
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