Associados ao Fórum das Águas do
Amazonas e a organização Habitat para a Humanidade, diversos movimentos
ambientais e lideranças comunitárias visitaram comunidades da periferia de
Manaus, identificando situações de precariedade ou a total ausência dos
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário na capital
amazonense. As visitas e atividades ocorreram no corrente mês, sendo concluídas
no Dia do Meio Ambiente, agregando sabor e rebeldia às manifestações populares.
Participaram da empreitada os seguintes
coletivos: Articulação de Mulheres do Amazonas, Articulação Amazônica dos Povos
e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana, Associação de
Moradia Ana Oliveira, Central de Movimentos Populares, Equipe Itinerante,
Faculdade de Informação e Comunicação (UFAM), Frente Amazônica de Mobilização
em Defesa dos Direitos Indígenas, Maloca Digital, Instituto de Filosofia,
Ciências Humanas e Sociais (UFAM), Instituto IAÇU, Instituto Sumaúma, Movimento
Nacional de Luta pela Moradia, Movimento das Associações do Igarapé do Gigante,
Observatório Socioambiental Encontro das Águas, Rede Jubileu, Remada Ambiental,
Comitê da Bacia Hidrográfica do Tarumã Açu e União Nacional por Moradia
Popular.
Os coletivos visitaram oito
comunidades, onde se constatou a ocorrência de situações de grave impacto na
vida de milhares de pessoas de diferentes zonas da cidade. As organizações
perceberam a ausência de aparatos públicos fundamentais e a precariedade dos serviços
da empresa Águas de Manaus, que opera atualmente a concessão de água e esgoto
da capital amazonense. O abandono da população nas comunidades foi observado de
perto, tomando dimensões assustadoras.
As comunidades vivem sob o olhar omisso
das instâncias municipais, estaduais e federais. Direitos fundamentais, como a
água potável e o saneamento de qualidade, a moradia digna, a saúde e a educação
adequadas e o trabalho, não fazem parte da vida concreta destas populações.
Nestas localidades, a luta pela vida não é somente uma retórica, mas constitui
um verdadeiro desafio enfrentado cotidianamente. A vida é uma conquista de cada
dia frente às condições desfavoráveis impostas pela cidade capitalista e pelo
desinteresse dos poderes públicos vigentes.
A concessionária de água e esgoto,
assim como a maioria das grandes empresas, aperfeiçoa diariamente formas de
ampliar seus lucros à custa dos trabalhadores e da exploração da natureza,
disponibilizando serviços precários a uns, negando serviços essenciais a outros
e destruindo os corpos hídricos com poluição e maus tratos. Como seres
parasitas, a concessionária suga dos mais pobres até a última moeda, aplicando
tarifas exorbitantes e exigindo na justiça o retorno econômico dos serviços mal
realizados.
Os povos indígenas do Parque das Tribos
resistem a tal lógica, pois para eles a água é um bem comum oferecido
gratuitamente pela natureza que é cingida de cuidado, respeito e gratidão. Para
estas populações, a água, assim como a biodiversidade, não pertence a empresas
privadas que as exploram para o próprio enriquecimento. Estes elementos
naturais são seres sagrados e por isso não devem ser transformados em
mercadorias em benefício de um sistema econômico injusto e insustentável.
Segundo esta cosmovisão, a natureza e todas as suas expressões devem ser
reverenciadas e tomadas como seres vivos e atuantes.
A ausência do poder público e da
empresa de saneamento no bairro Puraquequara obriga a população encontrar por
si saídas para as suas dificuldades, fazendo o que é possível para sobreviver.
O Estado e a Concessionária se unem nesta cumplicidade. Eles fogem das suas
responsabilidades legais, enquanto o povo é acometido por doenças de veiculação
hídrica, conflitos envolvendo o uso da água e a violência da falta de saneamento.
Os depoimentos dos moradores são
dramáticos, mostrando que a empresa ignora os lugares que não oferecem retorno
econômico. Rei Davi, situada na zona leste da cidade, é uma das comunidades que
não possuem serviços de abastecimento de água e nem sonha com o sistema de
esgotamento sanitário. Um dos líderes desta localidade revelou que a empresa
prometera chegar no lugar somente depois que se certificou de que haverá lucro
no empreendimento , mesmo assim ainda não deu as caras. A esperança resiste…
Em Manaus, a implantação destes
direitos está vinculada à geração de rendimentos para a concessionária, não
importando quem e quantos ficam de fora do sistema. Trata-se de uma lógica
perversa, pois a água não é um produto opcional para os seres humanos. A água é
necessária e insubstituível. Condicionar o fornecimento de água ao pagamento de
faturas para beneficiar uma empresa, significa colocar a decisão da vida ou da
morte nas mãos de uma multinacional que tem o lucro como prioridade. Eis mais
uma aberração capitalista que desconhece qualquer limite ético.
Já se ouve clamores por mudanças radicais. Enquanto não superarmos a lógica em curso fracassaremos nos anseios de uma sociedade justa e pacífica. Os desastres ambientais se tornarão cada vez mais recorrentes, as guerras e a violência serão nossas companheiras permanentes e a humanidade continuará caminhando para o fosso.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/aguas-de-manaus-suga-dos-pobres
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/640441-aguas-de-manaus-suga-dos-pobres
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