Os desastres ambientais são cada vez mais frequentes na
sociedade contemporânea. Estamos impactados atualmente com as enchentes do Rio
Grande do Sul, que ainda não pararam de fazer vítimas. Todo o país se mobiliza de
alguma forma para aliviar o sofrimento dos gaúchos. Esta tragédia tem sensibilizado
os brasileiros do norte ao sul do território nacional. As tragédias geralmente
mostram as nossas fragilidades e evidenciam as relações de interdependência entre
os membros de uma sociedade. Não somos tão autônomos e autossuficientes como
muitas vezes querem nos convencer.
Já passamos por diversas tragédias ao longo do território
brasileiro. A Amazônia está saindo de uma seca severa, que atingiu diretamente 630
mil pessoas em 62 cidades somente no Estado do Amazonas. O Rio Negro que banha
a capital amazonense passou pela pior seca nos últimos 120 anos. Estudos
demonstram que as chuvas recentes não foram suficientes para devolver ao Rio o
seu nível normal, gerando apreensão sobre o próximo período de estiagem. A
destruição do bioma, eliminando florestas e influenciando o ciclo das águas,
cria cenários desfavoráveis para o enfrentamento das secas.
As tragédias ambientais são frutos da relação predatória que
estabelecemos com a natureza. O principio básico de uma sociedade capitalista é
gerar lucros infinitos, ignorando os limites da natureza e transformando tudo
em mercadoria. Esta orientação estimula a intervenção destrutiva sobre a
biodiversidade, incentivando a derrubada das florestas para dar lugar a
instalação do agronegócio, o fornecimento de madeira, a criação de pastos
bovinos, a abertura de estradas e a mineração devastadora e criminosa.
A ganância capitalista passa por cima de qualquer ética
ambiental, desprezando os cuidados essenciais pelas condições básicas
necessárias para a vida no planeta. As grandes empresas poluem os reservatórios
hídricos, lançando nos corpos d´água resíduos mortíferos para eliminar a vida
aquática. Fazendo isso, elas também prejudicam a própria humanidade,
contribuindo para o adoecimento das populações e para a escassez de água
potável, direito fundamental da pessoa humana.
Motores da sociedade capitalista, a queima de combustíveis
fósseis, a produção industrial e a geração de energia por usinas são as
principais causas da polução atmosférica. O lançamento de dióxido de carbono na
atmosfera eleva as temperaturas planetárias gerando transtornos climáticos e
promovendo tragédias ambientais. A ânsia pelo retorno econômico não enxerga as
consequências das suas ações destruidoras. Grupos que se beneficiam com estes
empreendimentos negam os seus efeitos prejudiciais, visando manter as taxas de
lucros, mesmo causando mortes de milhares de pessoas e inviabilizando a vida
humana.
As tragédias ambientais que nos afetam dramaticamente
mostram o outro lado do progresso e do crescimento econômico tão perseguido
pelas sociedades capitalistas. A crise ambiental entra no nosso recinto sem se
dar o trabalho de bater à porta. Estamos colhendo os resultados das opções
econômicas que fizemos. As contradições da sociedade de mercado não aparecem
somente nas injustiças impostas às classes trabalhadoras, deixando milhares sem
moradia, sem saúde, sem educação e lazer. As contradições capitalistas se
expressam cada vez mais nas tragédias ambientais que afetam as pessoas,
principalmente os mais pobres.
O capitalismo e o colapso ambiental são duas faces de uma
mesma moeda. Não se pode conservar um sem sofrer as consequências do outro. Esta
conclusão formulada por muitos teóricos está se tornando cada vez mais evidente
para a maioria da população. Não é possível continuar vivendo sob a égide do
capitalismo sem se preocupar com as trágicas consequências socioambientais que
afetam mortalmente a humanidade e a natureza. A paz e a harmonia que tanto
ansiamos somente poderão ser tecidas dentro de um sistema econômico bem
diferente.
Estamos metidos numa teia de relações sociais das quais
precisamos para existir. Acordamos para a realidade da nossa pequenez e nos
damos conta de que não conseguiremos sobreviver apostando tudo na nossa
capacidade de desempenho e na nossa capacidade de superar os desafios
recorrendo unicamente às nossas próprias forças. A concepção individualista do
ser humano, que caracteriza a sociedade moderna e capitalista, não consegue
permanecer de pé em meio às tragédias ambientais que somos obrigados a
enfrentar nos dias atuais.
É preciso outro sistema econômico mais sintonizado com as
dinâmicas da natureza e mais configurado pelo valor do bom comum. O
individualismo não pode ser a base da nossa convivência social sem que paguemos
um preço alto demais. A consciência ambiental necessária para uma mudança de
postura frente à natureza carrega a noção de que estamos todos interligados e
conectados a um planeta vivo. A lógica do capital que busca tirar proveito de
tudo e de todos não predispõe as pessoas para a busca do interesse coletivo. As
tragédias ambientais impõem esta reflexão.
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/639742-os-desastres-ambientais
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/os-desastres-ambientais
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