Os recentes acontecimentos ocorridos no Rio Grande do Sul
trouxeram muitos prejuízos e vítimas, inclusive fatais, impactando todo o
Brasil e gerando uma onda de solidariedade do norte ao sul do país. As chuvas
torrenciais somadas às outras contingências sociais e políticas provocaram uma
tragédia jamais vista na história do território gaúcho. As consequências são inegáveis
e deixarão rastros que não serão esquecidos por um bom tempo. Nenhum setor foi
poupado de prejuízos significativos: economia, indústria, comércio, agricultura,
educação, etc.
No segundo semestre do ano passado, a Amazônia também sofreu
as consequências de uma seca prolongada e severa, deixando os gigantescos rios
amazônicos secos e gerando sofrimento para as populações que ficaram sem acesso
à alimentação, à água potável, ao trabalho, a escola e aos aparatos de saúde.
Muitos grupos populacionais ficaram isolados em seus territórios, pois desapareceram
os rios que ofereciam as vias de deslocamento e de ligação com as cidades e outros
povoados. Na mesma época, cidades como Manaus sofreram uma invasão de fumaça
produzida pelas queimadas, deixando o ar insuportável e favorecendo o
aparecimento de doenças respiratórias e o agravamento de outras.
Em 2015, São Paulo, a maior cidade do país, esteve à beira
de um colapso total do abastecimento de água, por questão de dias. Além de tudo
simbólico, em 2021, nuvens de poeira escureceram os céus do estado. Não é
necessário lembrar da Pandemia do Covid 19, que escancarou em 2020, 2021 e 2022
a nossa falta de cuidado com a natureza. O individualismo e o consumismo nos
fecharam nos nossos mundos sedentos de sucesso, lucros e satisfações imediatas,
tirando do nosso campo de visão as possíveis consequências da destruição
ambiental causadas por nossas intervenções desastrosas.
Mudanças do clima, desigualdade social e ausência de
políticas públicas urbanas permanentes são os principais fatores que causam
tragédias recorrentes. Estas tragédias que se tornam cada vez mais comum não
deixam dúvidas sobre o momento histórico em que vivemos. A crise climática
prevista por pesquisadores, ambientalistas e organizações da sociedade civil,
já não representa um perigo para o nosso futuro. Ela já está presente, vivendo
tête-à-tête conosco. Não precisamos mais esperar para viver as tragédias ambientais
anunciadas durante as últimas décadas.
O que podemos fazer agora é partir para ações concretas,
tentando reverter este processo mortífero iniciado por nós mesmos e pelo nosso
estilo de vida profundamente agressivo à natureza. No entanto, mais do que
atualizar os nossos ordenamentos jurídicos agregando regras e normas ambientais,
precisamos mudar nossas atitudes, repensando as nossas relações com os outros,
incluindo a natureza. É necessário nos reconciliar com o planeta, inserindo-nos
efetivamente na rede da vida, com suas incontáveis expressões.
Não é possível mais esperar, pois milhares de pessoas são perdidas todos os dias em decorrência de nossas práticas anti-vida. Não há mais lugar para o negacionismo instalado nem para o antropocentrismo exacerbado que tanto tem prejudicado a nós e às milhares de espécies vivas nos mais diversos biomas e territórios. É hora de agirmos coordenadamente buscando saídas apropriadas e sustentáveis. É necessário um esforço conjunto, pois o problema é global e exige iniciarmos ciclos e processos diferentes.
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/a-crise-climatica-chegou
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/categorias/639315-a-crise-climatica-chegou
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