Manaus nasceu de costas para o rio e avessa à maioria da
população. Nos seus momentos mais gloriosos, somente um círculo restrito dos
cidadãos usufruía dos benefícios urbanos. O povo foi expulso dos centros da
cidade e excluído dos serviços disponíveis. Desde o seu inicio, indígenas,
caboclos e imigrantes eram considerados raças inferiores e desprezados
publicamente. Naqueles tempos, também a natureza já não era bem tratada. Há 500
anos, o território amazônico sofre intervenções devastadoras, que dizimaram
povos, culturas, espécies animais e vegetais.
Hoje, a vida em Manaus continua difícil para a maioria das
famílias que se estabelece na cidade. Esta conclusão não é resultado somente de
pesquisas recentes, mas baseia-se principalmente na observação da vida
cotidiana das ruas, praças e periferias. Não é difícil encontrarmos pessoas vagando
pelas ruas sem destino, apresentando sinais de pobreza e vulnerabilidade.
Infelizmente já é comum percebermos pessoas catando lixo, tentando encontrar
comida ou algo aproveitável para satisfazer uma necessidade básica.
É fácil encontrarmos pessoas, inclusive crianças, pedindo um
trocado nos semáforos das principais avenidas. A visita de pedintes nas casas
ocorre com cada vez mais constância. Pessoas dormindo nas calçadas enroladas
com mantas sujas e lençóis surrados é uma cena cada vez mais frequente. Residências
instaladas em áreas de risco, colocando famílias inteiras em situação de grande
vulnerabilidade são vistas em muitas partes da cidade.
Pesquisas recentes confirmam este diagnóstico, mostrando o
baixo desempenho dos serviços públicos. Segundo a organização Agenda Pública, a
cidade de Manaus aparece na 22ª posição entre as 26 capitais do Brasil no
tocante a qualidade dos serviços públicos. Alcançando a nota 3,67 a capital
amazonense ficou a frente somente de Maceió (AL), Salvador (BA), Macapá (AP) e
Belém (PA). Com este desempenho, Manaus perde para a maioria das capitais do
Brasil e da região norte: Palmas (TO), Boa Vista (RR), Rio Branco (AC) e Porto
Velho (RO).
Esta gestão sinistra da cidade é evidenciada também pela
expansão das áreas irregulares onde, por falta de opções, as populações mais
pobres são obrigadas a construir as suas moradias. Pesquisas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que 53,3% das residências
manauenses estão situadas em aglomerados subnormais, ou seja, palafitas,
ocupações e loteamentos, locais com difícil acesso a saneamento básico e
serviços essenciais (IBGE 2020). De acordo com a plataforma MapBiomas (2022),
nos últimos 36 anos a área ocupada por favelas aumentou em 95 km².
O esgoto a céu aberto já não representa nenhuma novidade na
maior parte de Manaus. Reclamações de falta ou má qualidade de água ecoam em
todas as zonas, inclusive em regiões bem consolidadas da cidade. A precariedade
dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário é vivida há décadas,
desencadeando denúncias, processos judiciais e inquéritos na câmara dos
vereadores do município e em outros órgãos de fiscalização. Tarifas elevadas
excluem grandes segmentos da população destes serviços essenciais. A empresa de
saneamento expande seus rendimentos a cada ano à custa do sofrimento da
população.
Isso explica porque a capital amazonense é a terceira pior
metrópole do Brasil na incidência de doenças causadas por saneamento básico
inadequado com 7,1 pacientes por 100 mil habitantes. Pior do que Manaus somente
está Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR). Dessa forma, Manaus apresenta as
maiores taxas de internação hospitalar por 100 mil habitantes por doenças
ligadas às más condições sanitárias.
O ICS (Instituto Cidades Sustentáveis) também confirma a lastimável
trajetória de Manaus. O Mapa da Desigualdade, que é produzido por esta
organização, mostra que Manaus é a segunda pior capital do país em desigualdade
social, ficando na 23ª posição no ranking nacional. Ainda segundo o ICS, a cidade também teve a
terceira pior taxa de desocupação entre as capitais. Manaus também é a terceira
pior do país em taxa de homicídios, por 100 mil habitantes. Para finalizar, em
Manaus, a idade média ao morrer é de 59 anos, a mesma de Palmas (TO). A melhor
taxa é em Belo Horizonte e Porto Alegre: 72 anos.
Todas estas informações demonstram que a capital amazonense possui um problema crônico de gestão. A governança não visa elevar a qualidade de vida do conjunto da população, mas trabalha para o bem privado de pequenos grupos, que dominam a cidade. A política tem sido sequestrada para beneficiar os poderosos e humilhar cada vem mais o povo. Hoje, assim como nos tempos de suas origens coloniais, Manaus ainda não encontrou o caminho certo. Manaus ainda continua em um caminho errante!
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