Vivemos mais um episódio da saga da retirada dos flutuantes
da Bacia do rio Tarumã-Açu. Centenas de flutuantes foram instaladas nesse rio ao
longo das últimas décadas sem o menor cuidado pelas águas. Descartam toneladas
de lixo e esgoto, promovendo a poluição hídrica, em um total desrespeito à vida
aquática e à vida do próprio rio. A intervenção inadequada e irresponsável sobre
os corpos hídricos marca a nossa época contemporânea, que é regida por uma
mentalidade utilitarista e egoísta, minimizando a importância e o significado
da água.
A agressão ao rio Tarumã-Açu não é praticada somente pelos
flutuantes que foram instalados ao longo do tempo no leito desta bacia, mas a
violência às águas é causada também pela falta de saneamento básica, largamente
conhecida em Manaus. Os efeitos deletérios provenientes da ausência deste
serviço essencial se alastram também por todos os rios e igarapés da cidade,
promovendo igualmente a degradação da vida aquática, humana e social.
Se há indignação contra os donos de flutuantes pelo mal que
causam à natureza, por que há tanto silêncio e resignação diante da falta de
saneamento, que tanto prejudica a saúde dos rios e das pessoas? A retirada dos
flutuantes também deveria impulsionar a expulsão dos responsáveis pela falta de
saneamento, começando pela concessionária de plantão e passando pela
substituição dos gestores públicos que aprovam tal violência contra o meio
ambiente e às pessoas.
Segundo as informações do IBGE, Manaus ocupa a segunda
posição entre as capitais que usam rios, lagos e córregos (igarapés) como
esgoto sanitário. De acordo com o Censo 2022, divulgado em fevereiro pelo IBGE
7,45% das residências manauaras despejam dejetos nestes cursos d’água. Isso
porque apenas 5,81% dos lares da capital possuem sanitários ou buracos para
despejos nos terrenos. O Estado do Amazonas também ocupa o segundo lugar com
mais esgotos jogados em rios e lagos, ficando atrás apenas do Amapá. Do total
de domicílios amazonenses, 8,25% despejam o esgoto nestes lugares.
Há poucos dias para o Dia Mundial da Água, 22 de março, essa
situação não gera celebração, mas ao contrário, mostra que não temos cumprido o
dever de casa no que diz respeito ao cuidado pelas águas e pela natureza. Esse
cenário indica que ainda não somos capazes de promover políticas públicas democráticas
que visem ao bem comum. Contrariando a sua inspiração original, a política tem
sido utilizada prioritariamente para beneficiar grupos privados. A ausência de
preocupação socioambiental anuncia a privatização da política.
Sandoval Alves Rocha
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