O 1º Seminário do Fórum das Águas, que ocorreu no Centro
Pastoral da Arquidiocese de Manaus (CEFAM), no dia 31 de outubro, teve a
participação de diversas organizações da sociedade civil preocupadas com a
degradação das águas na capital e no interior. O evento mostrou que os direitos
humanos à água e ao saneamento, assim como o direito das águas, são violados
todos os dia em Manaus e em toda a região amazônica.
Através de performances místicas, apresentações teatrais,
palestras e depoimentos de lideranças comunitárias, o Fórum das Águas denunciou
a má gestão dos recursos hídricos na capital amazonense, alertando que a crise
hídrica e socioambiental atualmente experimentadas podem se agravar ainda mais em
virtude das mudanças climáticas provocadas pela desastrosa intervenção humana sobre
a natureza. A falta de consciência ambiental, a exploração econômica predatória
dos recursos naturais e o abandono das funções socioambientais do Estado estão entre
as principais causadoras dessa situação.
Depoimentos e pesquisas apresentadas no evento mostraram que
os igarapés de Manaus e os rios que banham a cidade são diuturnamente agredidos
pelo lançamento de resíduos, esgotos, aterramentos e o desmatamento das matas
ciliares. Informações veiculadas nos principais meios de comunicações também
afirmam que a falta dos serviços de esgotamento sanitário tem contribuído
significativamente para a destruição dos corpos d’água em Manaus. A Secretaria
Estadual de Meio Ambiente tem manifestado preocupação com o baixo desempenho da
concessionária Águas de Manaus, que deveria realizar o tratamento de esgoto no
município manauense.
Os Movimentos de Mulheres se destacaram no Seminário ao
denunciarem que a concessão privada dos sistemas de água e esgoto oferecem
serviços precários às populações mais pobres da cidade, impactando de forma
especial as mulheres, que necessitam desses serviços na realização dos afazes
domésticos. Há 23 anos, os coletivos feministas se opuseram ao processo de
privatização desses serviços, pois sabiam por experiências de outras cidades,
que a iniciativa privada prioriza o retorno econômico em detrimento das
necessidades das populações, ignorando o cuidado das águas da região.
Apesar de viver no cotidiano a precariedade dos serviços de
água e esgoto ou a sua total ausência em muitos lugares, a população amazonense
aprofunda ainda mais o seu sofrimento com a atual seca que afeta a região. A
estiagem que abate o território também mostra a irresponsabilidade dos poderes públicos,
que deveriam implantar planos e políticas de prevenção, uma vez que tais
fenômenos já foram previstos por estudos científicos. Na construção desse
cenário caótico, portanto, os poderes públicos e privados convergem.
O baixo desempenho da empresa de água e esgoto em Manaus é
confirmado por dados fornecidos ao Fórum das Águas pela Comissão de Defesa do
Consumidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM). Segundo a CDC/ALEAM, as
concessionárias Amazonas Energia e Águas de Manaus foram as empresas mais
reclamadas durante o 1º Semestre do ano de 2023. Tais informações corroboram as
críticas do Seminário à má gestão dos recursos hídricos, caracterizando uma
evidente violação dos direitos à água e das águas.
O 1º Seminário do Fórum das Águas ecoou um grito de
indignação contra as agressões causadas aos homens e mulheres, ao meio ambiente
e ao planeta. Agressões históricas resultados de uma mentalidade
individualista, que ignoram as inter-relações e interdependências entre as
espécies vivas do ecossistema. As agressões são produzidas por um modus operandi economicista que só
enxerga possibilidades de lucros, reduzindo todas as coisas à mercadoria e
ignorando a beleza da vida que se faz presente através de múltiplas formas no
amazônico.
Sandoval Alves Rocha
IHU Unisinos - https://www.ihu.unisinos.br/634318-em-manaus-seminario
Amazonas Atual - https://amazonasatual.com.br/em-manaus-seminario
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