As informações do último Censo 2022 divulgadas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam o crescimento
da população de Manaus em uma média que ultrapassa os 14% ao ano desde o último
Censo em 2010. É muito superior à média nacional, que alcançou 6,4%. Em Manaus,
saltamos de uma população de 1,8 milhão de moradores para 2,06 milhões no ano
passado. Junto a este aumento populacional destaca-se também a produção de
desigualdades e o pouco cuidado com o meio ambiente.
A má gestão da cidade ao longo desse período é evidenciada
pela expansão das áreas irregulares onde, por falta de opções, as populações
mais pobres são obrigadas a construir as suas moradias. Pesquisas anteriores já
apontavam para esse fenômeno, indicando que 53,3% das residências manauenses
eram situadas em aglomerados subnormais, ou seja, palafitas, ocupações e
loteamentos, locais com difícil acesso a saneamento básico e serviços
essenciais (IBGE 2020). De acordo com a plataforma MapBiomas (2022), nos
últimos 36 anos a área ocupada por favelas aumentou em 95 km².
Bairros como Cidade de Deus e Alfredo Nascimento, situados
na zona norte da cidade, são os que mais possuem casas como essas. Nos
aglomerados subnormais residem em geral populações com condições
socioeconômicas de saneamento e de moradia mais precárias. Muitos aglomerados
possuem uma densidade de edificações muito elevadas, provocando a disseminação de
doenças. A distância entre as casas e as unidades básicas de saúde chega a dois
quilômetros.
Segundo o Fórum Amazonense de Reforma Urbana (FARU), existem
33 mil famílias em conflito fundiário em Manaus, sendo que desse total, 4,8 mil
sofrem ações de despejo. Varias das ocupações irregulares que formaram bairros
são habitadas por indígenas, como a comunidade Nova Vida, no bairro Cidade
Nova, onde vivem 3,5 mil famílias de diferentes etnias. Essas pessoas vivem em
meio a construções improvisadas e sem garantia e posse da terra.
Nessas áreas, serviços imprescindíveis como o abastecimento
de água e o esgotamento sanitário são parcial ou totalmente ausentes, indicando
o grau de injustiça produzido na cidade. Ao invés de ser direito garantido a
todas as famílias, o acesso adequado a esses serviços constitui privilégio de
poucos. Muitos desses serviços são privatizados, dificultando o seu aceso devido
ao baixo poder de pagamento das famílias. Na ânsia pelo lucro, essas empresas
priorizam os lugares economicamente mais rentáveis, ignorando as necessidades
da periferia.
A cidade não é produzida para toda a população, mas somente
para uma parte reduzida. Os aparatos urbanos são usufruídos por uma minoria,
deixando a maioria em condições precárias de vida. A cidade é feita para
atender aos interesses de grupos seletos. A cidade é desigualdade e humanamente
inviável na medida em que não promove o ser humano.
Esse modelo de gestão urbana também prejudica a esfera ambiental. A vulnerabilidade dos mais pobres tem forte ligação com a vulnerabilidade da natureza, que é constantemente agredida na cidade de Manaus. Os mecanismos de produção da pobreza afetam milhares de pessoas, mas igualmente impactam o meio ambiente, causando a destruição dos rios e igarapés, a devastação das florestas urbanas e a eliminação da biodiversidade. O ciclo perverso, muitas vezes justificado pela razão econômica, gera e aprofunda a crise socioambiental que se torna cada vez mais evidente na Amazônia.
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