A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a precariedade dos serviços realizados pela concessionária Águas de Manaus,
visitou o conjunto Renato de Souza, no bairro Cidade Nova para averiguar
reclamações dos moradores quanto aos serviços de água e esgoto da cidade
(20/04/2023). Na ocasião, os vareadores constataram as irregularidades da
concessionária no que diz respeito à qualidade dos serviços de fornecimento de
água e a ausência de esgotamento sanitário.
A principal reclamação da população do bairro tem sido a
qualidade da água e o nível de pressão que é insuficiente para levar o líquido
a todas as residências. Além disso, a localidade está enfrentando problemas com
a interrupção dos serviços durante os finais de semana. Mesmo com essa falha,
as tarifas chegam excessivamente caras aos moradores, de acordo com
documentação recolhida. Essas incoerências se somam às inúmeras irregularidades
cometidas pela empresa na capital amazonense.
As cobranças indevidas são responsáveis por grande parte das
reclamações que ecoam a população manauense. Órgãos de atendimento aos consumidores
confirmam esse fato, que é amplamente divulgado pelos meios de comunicações.
Esta extorsão praticada pela empresa tem contribuído expressivamente na
elevação dos seus lucros, que já ultrapassam os R$ 700 milhões de reais por
ano. A empresa cobra a tarifa mais cara da região amazônica e esse fato não passa
despercebido para os manauaras, que auferem como rendimento médio mensal um
valor inferior ao salário mínimo: R$ 1.012,00 reais (FGV, 2020).
Outra prática que favorece a elevação dos lucros da empresa
são os grandes investimentos realizados pelo Estado às custas dos cofres
públicos, quando a concessionária deveria recorrer aos próprios recursos, de
acordo com o regulamento da concessão. Em Manaus, esses investimentos são pagos
pela população, mas os lucros recolhidos são capturados pela empresa. Entre os
grandes investimentos públicos no saneamento é possível destacar o Programa
Água para Manaus (Proama), a ETE do Educandos e o Prosamim. Os retornos
econômicos de tais investimentos são apropriados pela concessionária.
Os lucros milionários da empresa são eticamente inaceitáveis
e causam indignação na população, uma vez que apresenta desempenho negativo
perante as promessas e expectativas geradas pelo discurso privatista. O que se
percebe é a ausência de esgotamento sanitário na maior parte da cidade, lançamento
de efluentes em igarapés, ruptura de adutoras por falta de manutenção,
fornecimento hídrico precário nos bairros mais empobrecidos, quebra de
calçadas, recapeamento inadequado, entre outras ocorrências.
Este desempenho também explica a má colocação de Manaus no
ranking do saneamento das grandes cidades brasileiras. Nesse ranking, Manaus se
encontra comumente entre os 20 piores centros urbanos do país. Ao considerar
somente os serviços de esgotamento sanitário, Manaus obtém uma performance
lastimável, pois a cobertura desse serviço chega somente a 25% da cidade. Essa
negligência afeta mortalmente os igarapés locais, que oferecem à capital
amazonense a ambientação amazônica. Prejudicam também a saúde da coletividade.
As cobranças indevidas praticadas pela empresa geram
múltiplas reclamações e processos judiciais. O portal de comunicação do
Ministério Público do Amazonas divulgou recentemente notícia destacando a condenação
judicial imposta à concessionária por cobranças indevidas no bairro Nova
Esperança. Segundo o site, a empresa Águas de Manaus foi condenada a devolver
em dobro os valores cobrados e efetivamente pagos pelos moradores, referentes a
períodos anteriores à instalação da rede de encanamento.
As vítimas relataram que a emissão das cobranças se iniciou
no ano de 1998, enquanto a rede abastecimento só foi implantada em junho de
2010. A decisão contemplou a irregularidade da prática adotada pela empresa, exigiu
a apresentação de planilhas informando matrículas e valores cobrados, bem como determinou
o pagamento da quantia de R$ 8 mil reais a cada consumidor indevidamente
incluído nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito.
A CPI da Águas de Manaus se encontra na fase de visitas às
comunidades para averiguar reclamações e irregularidades da empresa. Junto aos
moradores os parlamentares têm confirmado a precariedade dos serviços e
coletados informações para compor o relatório final da investigação. Depoimentos
e visitas às comunidades evidenciam que existe conivência do poder público
municipal e omissão da agência reguladora, que não fiscaliza os serviços
adequadamente.
A cidade anseia que os culpados sejam responsabilizados e
sonha com a implantação de uma gestão pública democrática, transparente e
solidária com as populações mais vulneráveis. É necessário que a lógica do mercado,
que visa prioritariamente os lucros, seja suplantada pela lógica dos direito
humanos e da natureza, que tende à valorização da vida humana em equilíbrio com
o ecossistema natural, respeitando as dinâmicas socioculturais da região.
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