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Campanha da Fraternidade: Registro fotográfico revela faces da fome estrutural na Amazônia


Na última quarta-feira, 22.02.23, a Igreja Católica promoveu a abertura da Campanha da Fraternidade 2023 com o tema “Fraternidade e Fome”, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

Durante coletiva de imprensa realizada no dia 17.02, para apresentação do tema, o cardeal da Amazônia, D. Leonardo Steiner, afirmou: “comer não é um direito, comer faz parte do humano, é mais do que direito. Sem comer o ser humano não subsiste, não vive”.

Em relação á tragédia que atinge o Povo Yanomami, denunciou: “por falta de comida, por uma desnutrição enorme, eles perdem o ânimo e a capacidade de viver, eles perdem o desejo de viver, perdem o desejo de ser”.

A fome é uma realidade preocupante em um país que em 2022 só 41,3% dos domicílios no Brasil tinham seus moradores em segurança alimentar, o que faz com que mais de 58% dos domicílios brasileiros, 125 milhões de pessoas, vivessem em algum nível de insegurança alimentar, sendo 15,5% os que conviviam com a fome, 33 milhões, um número repetido por três vezes pelo cardeal.

Exposição e poesia

Em formato de exposição virtual, o educador socioambiental Valter Calheiros, disponibilizou os registros feitos entre 2007 a 2022 nas cidades de Manaus e Silves, no estado do Amazonas, e em Porto Velho, no estado de Rondônia. São 20 retratos começando com um homem morador de rua em Manaus, que parece pedir por ajuda de alguém e termina com três crianças que moravam com suas famílias no lixão em Porto Velho, nas imagens as crianças juntam doces e chocolates jogados por um supermercado que pegou fogo.

“Aos fotógrafos será sempre um desafio encontrar um bom ângulo e fazer uma imagem que possa expressar realismo sem artifícios e em conformidade com a legislação brasileira”, afirma.

Ele revela ainda que, para uma análise um pouco mais profunda sobre o tema da fome, “é indispensável a leitura da obra do professor Josué de Castro”. “[…] A obra Geografia da fome é revolucionária, assim como seu autor, pois, pela primeira vez, contradiz a tese de que as causas da fome no Brasil (principalmente na região Nordeste) têm origens naturais. O autor descreve a fome política, fruto do subdesenvolvimento econômico, da ação predatória dos colonizadores, do capital internacional, da monocultura, do latifúndio, da ingerência política, ou seja, de uma estrutura civilizatória fundada na exploração do homem e da natureza, ou como diz o autor: “na escravidão do homem e da terra”.
 


FOME E ESPERANÇAS: DESPERDÍCIO E SOBRAS

 
Fome é barriga vazia
miséria humana angústia
pavor do destino.
Em muitos é presença desde a tenra infância.
Na boca nada além de uma baba
pra distrair, engolir e enganar a vida.
 
A espera de um prato de comida é esperança
de perto ou de longe há de chegar!
Não espere ser data festiva, alusiva
a saliva está em afoito apetite
pra no seu gesto de partilha saciar
vencendo a fome com alimentos na mesa.
 
Pão é paraíso já o desperdício gera sobras.
Confie, quem doa aos pobres recebe de Deus.
- Não perca a fé!
 
 
Valter Calheiros
 
FONTES:
Texto Base CF-2023 CNBB
Acervo de fotos: Valter Calheiros























 

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