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Fórum das Águas denuncia a devastação dos mananciais hídricos

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No último dia 8 de dezembro Manaus se mobilizou para celebrar a festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. A celebração foi marcada pelo diálogo inter-religioso e por reivindicações sobre a gestão das águas na Amazônia. O Fórum das Águas e diversos grupos religiosos de matrizes africanas pregaram a união de todos para defender as águas da região, que sofrem com a poluição e a privatização.

A celebração, que se estendeu até o encontro das águas do rio Negro com o rio Solimões, foi espaço de alegria, espiritualidade e protestos. Manifestações de devoção e depoimentos contra a gestão privada das águas marcaram o evento. A mística e a simbologia do famoso Encontro das Águas sinalizaram a urgência de a sociedade se unir para defender as águas contra os ataques do mundo moderno, cujo modelo econômico devasta a natureza e transforma tudo em mercadoria para o benefício de poucas pessoas.

Em meio às orações e preces direcionadas à Senhora da Conceição (Iemanjá, Oxum), os participantes reivindicaram a água como um bem comum e denunciaram os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário da cidade. O projeto de construção do Porto da Lages prendeu a atenção de todos e recebeu fortes críticas, uma vez que tal iniciativa prejudicaria o Encontro das Águas, que ostenta intenso sentido religioso e cultural, além de desempenhar papel significativo no ecossistema local.

Lideranças religiosas denunciaram a ganância da empresa Águas de Manaus, que realiza serviços precários, mas impõe tarifas caras à população. Uma das lideranças religiosas desabafou dizendo, “vamos criar vergonha povo da Águas de Manaus! Vamos criar vergonha seu Governador e seu Prefeito!”. Outra liderança do Fórum das Águas complementou a fala denunciando a poluição causada pela concessionária, que se omite da sua responsabilidade contratual com a anuência dos poderes públicos estaduais e municipais. 

Os serviços de abastecimento de água e esgotamento de Manaus estão privatizados desde o ano 2000, passando pelo controle de diversas empresas (Lyonnaise des Eaux – Suez, Solvi, Águas do Brasil e Aegea Saneamento), sem que até hoje sejam resolvidos os problemas do saneamento. As populações das periferias reclamam continuamente do abastecimento de água pela má qualidade do serviço, pela sua ausência em diversas partes da cidade e pelas tarifas exorbitantes e fraudulentas.

A rede de esgotamento sanitário é disponibilizada somente para 22% da cidade (SNIS 2020), deixando a grande maioria dos moradores sem o serviço. A falta do sistema prejudica não somente a saúde da população, mas também o meio ambiente. A empresa tem usado o álibi da importância do esgotamento para obter empréstimos milionários nos bancos públicos, mas não se percebe na cidade melhoria significativa do sistema. Boa parte do esgoto coletado não é tratada, mas devolvida para os corpos hídricos de forma inadequada e irresponsável.

Organizações interessadas nesses serviços, como o Instituto Trata Brasil, lança mão de informações nacionais para acompanhar o desempenho das empresas. Ranking realizado por esse instituto posiciona Manaus entre as piores metrópoles brasileiras. Percebe-se a falta de investimento e verificam-se impactos negativos na saúde da população e do meio ambiente. Estudos alertam que o desenvolvimento humano e social depende desses serviços.

O Encontro das Águas é um grande altar que reúne religiões de diversas matrizes, inspirando a união de corações e esforços empenhados na construção de sociedades humanamente desenvolvidas. Nesta celebração em pleno Encontro das Águas, o Fórum das Águas resgata o sentido da sua existência, que é a defesa das águas, demandando um gerenciamento justo, solidário e sustentável dos mananciais hídiricos da Amazônia. 











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