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Coletivo Fórum das Águas inicia formação sobre saneamento básico nas comunidades


Crédito: Fórum das Águas/Divulgação

Com a proposta de levar informação e formação sobre aspectos do abastecimento de água e esgotamento sanitário em Manaus, o coletivo Fórum das Águas realizou o seu primeiro encontro itinerante na comunidade João Paulo II, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus, na manhã desta terça-feira, 18.10, na sede da Igreja Pentecostal Arca da Aliança. 

Durante o encontro, foram apresentados os conceitos de saneamento básico (água potável, esgotamento sanitário, rede de drenagem e resíduos sólidos), importância e histórico do serviço em Manaus, além de informações sobre educação ambiental sanitária com exemplos de diferenciação de itens que são classificados como recicláveis e os que são considerados rejeito. 

“O acesso ao saneamento básico é um direito constitucional porque garante dignidade ao cidadão, promove a saúde e previne doenças. A Água é um direito humano, já reconhecido pela ONU”, afirmou o coordenador do Serviço de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), Sandoval Rocha, doutor em Ciências Sociais e Coordenador do projeto de pesquisa “Cidadania Hídrica na Amazônia: oportunidades e desafios do acesso à água potável e ao esgotamento sanitário” pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). 

Dicas sobre o descarte de medicamentos vencidos, eletroeletrônicos, pilhas, resíduos volumosos e restos de podas foram apresentados à comunidade. Aproximadamente 15 pessoas participaram da formação. Sandoval Rocha lembrou que o descarte irregular vai parar na rede de drenagem da cidade, que já é deficitária, o que prejudica a todos, principalmente com alagamentos. 

“Muita gente faz o descarte incorreto por desconhecimento. Tive a oportunidade de ver em outra cidade, como Curitiba, como faz diferença uma cidade limpa, onde funciona a ação da população e do poder público. Vamos começar a nossa parte e, aos poucos, ir mudando", afirma o Pastor Francisco Ribeiro de Vasconcelos. 

Ao final, foi realizado o sorteio de brindes simbólicos entre os participantes. Uma oficina de educação ambiental e reciclagem está agendada para o próximo mês. 






Falhas no abastecimento 

Durante o “Fórum das Águas na comunidade”, várias reclamações a respeito do fornecimento de água, cobranças indevidas e falta de retorno sobre a tarifa social foram apresentadas. Francisco Ribeiro de Vasconcelos afirma que está com o fornecimento de água cortado e mesmo assim vem recebendo cobrança mensal da concessionária. “Pago uma água que não existe”, afirma. 

O comunitário João Souza é morador da região há 22 anos e diz que o fornecimento sempre foi irregular. Nos dois últimos meses, viu a conta subir de R$ 80, que era a média paga por ele, para R$ 120 e, no mês seguinte, para R$ 600. 




“Como isso pode acontecer se não fiz nada diferente do que já vinha fazendo? Infelizmente não temos representantes, ninguém por nós. Se não nos unirmos para buscar nossos direitos, empresa nenhuma vai olhar por que não são eles que precisam", disse.


O líder comunitário Francisco Pinheiro de Lira lembrou que além de pagar uma tarifa cara de água, a comunidade tem que comprar água pra beber por que não confiam no tratamento dado à água fornecida nas torneiras. 

Em pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil nos bairros Compensa, Redenção e Cachoeirinha, entre os meses de junho e julho de 2021, sobre a qualidade de vida e condições de saúde da população, 47% dos respondentes afirmaram ter tido diarreia depois do serviço de fornecimento implantado ante 46% antes da instalação de hidrômetros. Da mesma forma, 18% alegaram ter tido alergias após o funcionamento do serviço contra 15% antes. Os dados foram apresentados aos comunitários durante a formação. 

Ainda de acordo com o ranking do saneamento do Trata Brasil, Manaus é o 8º município dentre os piores no ranking do saneamento básico. 

“Já temos 22 anos que a iniciativa privada assumiu o serviço na capital amazonense. Como o poder público contratou uma empresa que continua entre os últimos? No entanto, mesmo com esse serviço, ela vem ampliando sua atuação já é uma das maiores do Brasil”, afirmou Sandoval Rocha. 

O coordenador do Sares lembrou que Manaus tem a tarifa mais cara da Amazônia na cidade em que ocupa a primeira posição no índice de pobreza do Brasil com 41,8% da população em situação de miséria, o equivalente a 1.098.957 milhão de pessoas. 

Os dados são do 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles que aponta ainda a existência de outras 11,1% ou 290.549 pessoas em situação de pobreza extrema na capital amazonense. O boletim é produzido pelo Observatório das Metrópoles em parceria com a PUC do Rio Grande do Sul e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).  

"Todos temos direito à água por ser um bem comum e, justamente por isso, ela não pode ser considerada uma mercadoria. Infelizmente, já está sendo tratada da mesma forma que o ouro no mercado financeiro internacional”, alertou a sócio-educadora ambiental Mercy Soares.




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